Sessões
Apresentações: 15-20 minutos, dependendo do número de participantes em cada sessão, com um debate no final
As sessões marcadas com (*) serão, preferencialmente, em inglês.
Temas
1 | Resgatando a distopia espacial. Grandes complexos habitacionais para a classe média
Ana Vaz Milheiro | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Filipa Fiúza | DINÂMIA'CET-IUL
João Cardim | DINÂMIA'CET-IUL
Bruno Macedo Ferreira | DINÂMIA'CET-IUL
Este tema tem como objectivo reflectir sobre o papel destes conjuntos habitacionais no quadro da cultura arquitectónica e urbana do século XX. Enquanto modelo urbano, constituem uma síntese de ideias e de conceitos que desde o século XIX em torno de questões formais, culturais, sociais e técnicas sobre a cidade tais como o higienismo e saúde; a cidade-jardim; o direito à habitação para todos; a cidade do futuro; a cidade e as novas máquinas (transportes e telefone); as relações casa-trabalho, as novas técnicas construtivas e a consciência geral de uma nova situação histórica. O resultado da confluência de debates, reflexões e propostas caracterizou-se muitas vezes por edifícios modernos em altura, rodeados de espaços verdes e servidos por um traçado viário funcional.
O enquadramento analítico pode variar desde a análise de casos de estudo, até ao estudo do fenómeno em âmbitos nacionais ou transnacionais. Através de enfoques morfológicos, historiográficos ou mais estritamente conceptuais, pretende-se que as diversas abordagens possam incluir:
1.1 | Os conceitos e formas que estão presentes nestes conjuntos habitacionais;
1.2 | Os antecedentes e contextos que levaram à formulação de modelos de habitação em massa;
1.3 | A forma como o modelo foi utilizado, importado, exportado e adaptado numa grande multiplicidade de contextos cronológicos, geográficos e culturais;
1.4 | Os novos conjuntos como campo de experiência para novos conceitos de habitação e novas técnicas de construção;
1.5 | O contributo dos mesmos em torno de debates como a (des)densificação e a cidade compacta;
1.6 | A pertinência do conceito de megaform (Frampton, 1999) à luz destes projectos; ou, por oposição, do de megaestrutura.
2 | Re-territorialização metropolitana. A expansão urbana e os grandes complexos habitacionais
Paulo Tormenta Pinto | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
José Luís Saldanha | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Bruno Macedo Ferreira | DINÂMIA'CET-IUL
Os novos bairros modernos implicam uma articulação territorial com a cidade existente, tendo sido num primeiro momento entendidos enquanto pólos de fixação que contribuíam para o crescimento sustentável das metrópoles. Nas décadas subsequentes verificam-se fenómenos como a sua absorção pela cidade e/ou integração numa realidade metropolitana mais vasta, até à sua renovação face a fenómenos como as “shrinking cities”. Efectivamente, contrariamente ao que muitos autores previram relativamente às consequências urbanas das novas tecnologias digitais, as cidades não só se mantiveram como cresceram, muitas vezes com padrões de densificação altos.
No contexto mais alargado das realidades metropolitanas e territoriais, estes conjuntos desafiam noções e conceitos relativamente estabilizados do ponto de vista disciplinar e sobre os quais importa reflectir:
2.1 | A dialéctica entre os modelos central, policêntrico ou bipolar por oposição à cidade sectorizada;
2.2 | A organização e controle (social, político, administrativo) do espaço na (des)agregação de fragmentos;
2.3 | Os limites e contextos de subúrbio e periferia, em particular nos casos das megacidades, e a articulação destas novas realidades territoriais e metropolitanas;
2.4 | O entendimento da cidade não enquanto entidade mas enquanto processo;
2.5 | O papel das infra-estruturas viárias (e portanto do planeamento estratégico de transportes) no desenvolvimento de modelos urbanos de larga escala, bem como os seus potenciais e constrangimentos;
2.6 | O modo como as novas realidades territoriais e metropolitanas do final do século XX e início do século XXI evoluíram a partir destes modelos.
3 | Morte e vida dos grandes complexos habitacionais. Apropriações, usos e identidades
Isabel Guerra | DINÂMIA'CET-IUL
Sandra Marques Pereira | DINÂMIA'CET-IUL
Débora Félix | Investigadora LLM
A partir de meados do século XX, os bairros de subúrbio tinham como destinatário inicial uma classe média cuja aspiração era a de uma habitação moderna e de um novo estilo de vida fora da cidade tradicional, virado para o futuro e marcado pelo progresso tecnológico. Muitas vezes descritos, pejorativamente, pela sua monofuncionalidade residencial, anonimato e isolamento do espaço privado – a casa – em relação ao espaço colectivo, estes bairros originam um conjunto de questões a partir destes pressupostos:
3.1 | Qual a correspondência entre as propostas desses modelos habitacionais modernos e os modos de vida efetivos dos seus habitantes?
3.2 | De que modo a modernidade arquitectónica e o cosmopolitismo interagiram com aspectos formais e/ou informais de identidade local e com outros aspectos mais abrangentes relativos a novas políticas públicas e novas identidades urbanas?
3.3 | Qual o impacto do espaço físico na estruturação dos modos de vida e de que modo a diversidade das sucessivas ocupações se reflectiram na manutenção ou alteração desses espaços, dada e a sua exposição posterior a usos e a contextos sociais e culturais muito diversos?
3.4 | De que modo a construção de bairros em contextos geográficos não europeus, com ocupações muito diversificadas na sua origem étnica, religiosa, social e cultural se relaciona com o seu “sucesso" ou “insucesso”, quer económico, quer social?
3.5 | Como se verificou a coexistência entre o cosmopolitismo inicial destes bairros com elementos de pertença local, e a emergência de fenómenos identitários, de indiferença ou anonimato?
4 | O problema da habitação na imprensa periódica de arquitectura: manifesto, crítica e divulgação
Rute Figueiredo | ETH Zurich / D-ARCH/gta
Margarida Brito Alves | FCSH/IHA
Rogério Vieira de Almeida | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
As publicações de arquitectura desempenharam um papel fundamental quer na abertura do debate em torno do problema da habitação, quer na divulgação de modelos e tipologias habitacionais. Com efeito, apesar da sua utilização generalizada ter ocorrido depois da Segunda Guerra Mundial, já na década de 1930 os Grands Ensembles faziam o seu aparecimento na imprensa periódica da especialidade (L’Architecture d’Aujourd’hui, vol. 1, no. 6, Junho 1935), passando a ser um tema recorrente nas décadas subsequentes. Procura-se, assim, reflectir sobre as diferentes formas de que se revestiu a presença desse modelo na imprensa periódica. De um modo geral, pretende-se discutir:
4.1 | Em que medida a presença destes conjuntos nos periódicos de arquitectura contribuiu para a discussão e utilização dos mesmos?
4.2 | Que protagonistas foram difundidos e qual a expressão dessa difusão?
4.3 | Que tipo de análise e discussão crítica é possível detectar?
4.4 | Que discursos predominantes – de aceitação, rejeição ou crítica – se formaram a partir da presença destes conjuntos nas publicações periódicas de arquitectura?
4.5 | Até que ponto estas publicações se constituem actualmente como matéria de reflexão sobre a habitação?
5 | Para além do modelo. Deslocamentos conceptuais
Mónica Pacheco | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Ana Vaz Milheiro | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Rogério Vieira de Almeida | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Os conjuntos habitacionais tiveram ao longo de várias décadas uma situação diversa relativamente à sua produção. Panaceia inicial para os problemas de habitação e resposta ao sonho de uma classe média em ascensão, foram adoptados por parte de promotores públicos e privados: Ao mesmo tempo alvo de críticas, e proibição legislativa (França, 1973), mais recentemente foram considerados como património a salvaguardar (Faut-il protéger les Grands Ensembles?, Ministère de la Culture, DAPA, 2007). Finda a época vitoriana e a redefinição do espaço interior que alastrou um pouco a toda a Europa e findo também o período mais conturbado de realojamentos de larga escala, o tema da habitação perdeu de certa forma o seu elã inicial. É eventualmente a partir dos grandes promotores privados que se desenvolvem alguns dos modelos mais interessantes para uma classe média com novas aspirações, síntese de quase um século de investigação sobre a habitação. Por outro lado, o facto de esta ser uma classe que se movia de carro para o trabalho alterou também, de algum modo, a configuração do espaço público e do entendimento sobre este. Enquanto alguns exemplos reinterpretaram o conceito de Clarence Perry de Unidade de Vizinhança, outros constituíram-se como autênticos bairros dormitório. No âmbito deste tema pretende-se entender:
5.1 | Se de um ponto de vista tipológico existe, ou não, correspondência entre uma determinada ideia de urbanidade inerente ao modelo na definição da domesticidade actual?
5.2 | Que modos de vida urbana, social e individual propõe este modelo e de que forma se reflectem no desenho do espaço público/colectivo e do espaço mais íntimo da “casa”?
5.3 | De que forma determinados contextos, quando confrontados com este modelo, o transformaram numa cidade satélite, numa “unidade de vizinhança” ou simplesmente num bairro dormitório?
5.4 | Que transformações implicaram as diferenças entre os contextos locais, climatéricos, culturais, sociais, ou até mesmo as diferentes estruturas familiares, na implementação deste modelo?
5.5 | De que modo o estudo e análise destes modelos arquitectónico-urbanísticos se reflectem na produção?
5.6 | De que forma a diversidade de promotores (privados e públicos) interroga o impacto de um modelo habitacional “universalista”, centrado numa cultura moderna e ocidentalizada, e na emergência de posições mais abrangentes de afirmação e combate sobre o urbanismo e arquitectura da habitação da classe média?
6 | Outside looking in. Visões do outro − arte, literatura, cinema e música
Jorge Figueira | CES / DARQ, Coimbra
José Luís Saldanha | DINÂMIA'CET-IUL / CIAAM
Luís Urbano | FAUP
Alexandra Areia | DINÂMIA'CET-IUL
Os bairros modernos de subúrbio constituíram desde cedo uma realidade social e icónica, fonte de atracção para vários campos de produção artística. Como centro problemático de acção e/ou representação ou cenário presente, o subúrbio moderno está presente em inúmeros meios de expressão cultural como a pintura, a produção cinematográfica, a literatura e a música, revelando uma multiplicidade de significados e perspectivas. É sobre a diversidade de olhares que a produção cultural desenvolveu que se pretende reflectir, privilegiando as perspectivas cruzadas, designadamente:
6.1 | De que modo particular foram utilizados os meios artísticos como veículos críticos?
6.2 | De que modos contribuíram as artes para a construção de um determinado imagético urbano?
6.3 | Como é que o meio artístico representou estes lugares, contribuindo para a forma como a cidade é agora imaginada e/ou (re)lembrada?
6.4 | Qual o papel da produção artística, que espelha esta realidade, na definição da cultura arquitectónica e urbana contemporânea?
6.5 | Como é que a multiplicidade de significados que estes meios podem sobrepor contribuíram para a ideia actual de classe média e suas aspirações?